por Nayara Marques | 25/06/2010
Conheça este e outros medicamentos que prometem estimular a libido da mulher
A sexualidade feminina sempre foi um tabu. Até hoje muitas mulheres não se sentem à vontade quando o assunto é sexo e o próprio prazer. Essa realidade começou a mudar com a chegada de produtos capazes de estimular a libido da mulher com dificuldades em atingir o orgasmo durante a relação. Mas é preciso atenção, pois, como alertam os especialistas, os métodos podem mascarar a verdadeira causa do problema.
Gel estimulante
Uma das opções é o Viatop. O gel, que leva na composição arginina e mentol, deve ser passado de três a cinco minutos antes da relação e ajuda na vascularização e vasodilatação da região genital. Alguns especialistas se referem ao produto como o Viagra feminino, mas o chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Quinta D’Or, Humberto Tindó, discorda desse rótulo. "Isso é um grande erro, pois o Viagra original não aumenta a libido e, sim, propicia a ereção e a sustenta por um tempo maior. Nos homens, isto melhora a autoestima e consequentemente interfere nos mecanismos psicológicos da libido e do desejo sexual propriamente dito", explica.
Para o ginecologista Felipe Brandão, o Viatop funciona na verdade como um estimulante e não é garantia de que a relação será satisfatória. "O Viatop não garante um orgasmo. A relação envolve duas pessoas. Então, com o uso do produto, a mulher vai pensar, vai erotizar, vai imaginar, mas o desempenho da relação não depende só dela", observa.
A vantagem do gel é o processo de conhecimento do próprio corpo. Ele estimula a retomada das preliminares que fazem grande diferença para as mulheres, mas que acabam deixadas de lado. "Na relação sexual normal muitas vezes a mulher não tem nem tempo de chegar a um nível de excitação. Para isso, ela pode fazer uso da pré-relação, das preliminares, que são os beijos, os toques etc. O Viatop entra exatamente nessa hora. Neste processo, a mulher acaba se conhecendo melhor, conhecendo o próprio corpo e os próprios desejos. Acho vantajoso nesse sentido", afirma Felipe Brandão.
Sem garantia
Humberto Tindó conta que não existe nenhuma substância que seja cem por cento eficaz no aumento da libido feminina. No entanto, existem estudos em andamento que apresentam maior possibilidade de se transformarem em produtos comercializáveis, baseados em duas substâncias: a bupropiona e a flibanserina. Ambas são encontradas em antidepressivos que, quando usados, apresentaram como efeito colateral a intensificação do desejo sexual.
O ginecologista alerta, porém, para o fato de que o produto só deverá funcionar em pessoas com depressão. "Na minha opinião, essas substâncias devem ter um efeito de aumento da libido naqueles que efetivamente apresentam um quadro depressivo, mesmo que leve, pois a diminuição da libido faz parte desses quadros clínicos. Não acredito que elas venham a aumentar o desejo de qualquer um, que sejam mágicas", opina.
A farmacêutica Boehringer Ingelheim Brasil testou seu novo medicamento com a flibanserina como princípio ativo em mais de cinco mil mulheres e, de acordo com Cristina Stephan, gerente médica da empresa, o resultado foi um aumento do número de eventos sexuais satisfatórios, a intensificação do desejo e a diminuição da angústia associada ao Desejo Sexual Hipoativo (DSH).
Cristina explica que a resposta sexual é composta por quatro etapas: desejo, excitação, orgasmo e resolução. A flibanserina se diferenciaria do Viagra masculino pela fase na qual atua. "O Viagra age na segunda etapa, que é a excitação, cuja principal reação no homem é a ereção, já a flibanserina atua na primeira etapa, que é o desejo (interesse). Além disso, o mecanismo de ação dos dois fármacos é distinto, enquanto o Viagra tem ação local, aumentando a vascularização do pênis, a flibanserina tem ação no sistema nervoso central, restabelecendo o equilibro de neurotransmissores envolvidos no mecanismo de resposta sexual", complementa. O medicamento ainda não foi lançado em nenhum país, mas tem previsão de chegar ao Brasil até o final de 2011.
Um método que já existe no mercado é o implante subcutâneo que libera o hormônio gestrinona. Segundo Humberto, essa substância foi muito utilizada na década de 80 no tratamento da endometriose. O especialista avalia que este procedimento não vale a pena por apresentar muitos efeitos colaterais, entre eles, os androgênicos – que modificam as características sexuais primárias.
"Seria quase como tomar testosterona para aumentar o apetite sexual e levar, de lambuja, o aumento do clitóris, o hirsutismo (crescimento excessivo de pelos), a mudança do tom de voz e o aumento da massa muscular. Ou seja: a masculinização", enumera Humberto. Para ele, o uso deste método corresponde a acreditar que o desejo e o apetite sexual são características tipicamente masculinas.
O ginecologista afirma ainda que a saúde global é o que mais interfere na sexualidade. Doenças crônicas como o diabetes e a hipertensão podem ser grandes inimigos do sexo, além de distúrbios mentais e do uso de substâncias que agem no Sistema Nervoso Central – como as drogas lícitas e/ou ilícitas. Deteriorações emocionais em um relacionamento também interferem diretamente na sexualidade do casal.
Para o psicólogo e sexólogo Augusto Mendes, o Viagra, tanto masculino como feminino, é uma forma de mascarar uma dificuldade do relacionamento. "O homem que precisa do Viagra, por exemplo, pode estar passando por problemas que geram uma insegurança nele, o que causa a disfunção. Mas essa dificuldade pode muito bem ser resolvida na terapia", explica.
No caso das mulheres que já passaram pela menopausa e sentiram uma queda da libido, Augusto aconselha uma reposição hormonal. "A mulher vai perder naturalmente a produção de hormônio, que por sua vez vai afetar o bem-estar e o humor dela. A mulher fica irritada, tem calafrios. A reposição hormonal pode ajudar na produção da libido", observa.
Ainda assim, Augusto Mendes reforça que a busca por medicamentos deve ser a última opção. "Eu sempre digo que o melhor Viagra é o diálogo. Às vezes a falta de libido pode ter uma causa lá no passado, na primeira relação da pessoa, talvez em uma incompreensão do homem sobre as necessidades da mulher, por exemplo. A terapia de casal vai cuidar dessas questões externas e internas que criam dificuldades e afetam a relação, a libido, o ânimo e o tesão entre os dois", explica.
A prova disso, segundo o psicólogo, é que mesmo com o uso de medicamentos, alguns casais continuam com as dificuldades. "Existem parceiros que fazem uso de hormônios e a situação fica na mesma, porque essa falta da libido tem muito mais a ver com a autoestima, com as insegurança, vergonha e timidez do que com um processo fisiológico", ressalta.
Problemas com o desejo sexual podem ter sua origem na própria cultura ou criação, já que a sexualidade feminina foi e ainda é vista como um tabu. Augusto explica: "Podem existir questões culturais envolvidas. Ou por uma criação repressora ou muito religiosa, em que tudo é feio e a mulher não pode fazer nada. Então essa pessoa acaba deixando de aproveitar e viver algumas coisas achando que é errado. Na terapia a gente faz uma revisão desses valores, mostra dados estatísticos, o que é certo, o que é errado etc. Em pleno século 21, tem mulher que não consegue se despir na frente do marido. Essas questões devem ser resolvidas", sugere.
Fonte: http://www.bolsademulher.com/sexo/viagra-feminino-19456-1.html